Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro 2008





Criada em maio de 2002, a Academia Brasileira de Cinema vem nos últimos anos, aos trancos e barrancos, tentando realizar uma cerimônia de premiação da indústria cinematográfica nacional. As primeiras tentativas foram bem sucedidas, mas prejudicadas pela falta de um patrocinador certo e de um palco definitivo. O cinema Odeon BR e o Copacabana Palace foram testados, não produziram o resultado que se esperava. Agora, em 2008, com o apoio da Vivo, a Academia finalmente conseguiu realizar uma cerimônia da proporção que merecem nossos filmes e artistas.Alguns, até por um anti-americanismo raso, criticam classificar o Grande Prêmio como o Oscar brasileiro. Não há demérito algum em ser comparado ao maior prêmio do cinema, que este ano chegou aos seus 80 anos (mais do que Cannes, Berlim e Veneza, vale lembrar). O que não pode acontecer é perder a identidade e apenas tentar copiar o Oscar. Mas isso a nossa Academia não fez, a começar pela duração. Ao invés das quatro horas habituais que tem o Oscar, o Grande Prêmio teve menos de duas horas de duração.Assim com o Oscar, Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro tem tudo para se transformar daqui para frente em um evento certo em nosso calendário, servindo como centro de confraternização de atores, diretores, produtores e todos aqueles demais profissionais da indústria. Pouco antes do início da cerimônia, o ator Wagner Moura comemorava o fato de poder confraternizar com colegas de profissão com os quais não tem a oportunidade de encontrar no dia a dia.O evento tem tudo para crescer ainda mais nas próximas edições, mas já pode comemorar o fato de possuir o tapete vermelho mais badalado do país. Nem a forte chuva que caiu no Rio de Janeiro no dia da premiação (15 de abril) afastou os famosos do tapete vermelho do Vivo Rio, casa de espetáculos que serviu de palco para a cerimônia. Camila Pitanga, Antônio Pitanga, Rocco Pitanga, Fernanda Souza, Maria Padilha, Viviane Pasmanter, Dira Paes, Marieta Severo, Selton Mello, Alinne Moraes, Hugo Carvana, Carla Ribas, Matheus Nachtergaele, Letícia Colin, André Ramiro, Laura Cardoso, Andréa Beltrão, Liliana Castro, Sérgio Marone e muitos outros marcaram presença.Com direção artística de Gustavo Gasparani e roteiro original de Domingos de Oliveira, o Grande Prêmio teve apresentação apenas correta de Drica Moraes e Vladimir Brichta. A edição deste ano marcou ainda pelo surgimento de um novo troféu. Os 23 premiados saíram do Vivo Rio com o Troféu Grande Otelo, criado pelo designer João Uchoa. Em um belo momento da noite, Carvana subiu ao palco para homenagear Grande Otelo, destacando: “relembrar é uma forma de manipular o tempo”.Otelo foi um dos maiores atores que o Brasil já viu, um comediante nato que muitas vezes atuou ao lado de Oscarito. E foi uma coincidência muito feliz que no ano em que optou-se por nomear o troféu como Grande Otelo o homenageado da noite tenha sido um outro comediante que fez história em nosso cinema, Renato Aragão. Após algumas palavras proferidas por Daniel Filho, nosso Didi recebeu a homenagem das mãos da filha Livian Aragão, que atuará com o pai em “Guerreiro Didi e a Ninja Lili”, a ser lançado nos próximos meses. Aplaudido de pé, Renato agradeceu a família e não se esqueceu, é claro, de seus companheiros trapalhões Dedé Santana, Mussum e Zacarias. O ator declarou sua paixão pelo cinema e não esqueceu de lembrar de sua desavença com a crítica: “Já fiz herói, vilão, pirata e quando eu fazia mocinhos, os bandidos me batiam de um lado e a crítica de outro. E quanto mais batiam, mais a bilheteria crescia”.O primeiro troféu da noite foi para “Putz!”, de Everton de Oliveira Lima, considerado o melhor filme para celular. Na seqüência vieram os prêmio destinados aos curtas-metragens, com “Beijo de Sal”, “A Cidade e o Poeta” e “Vida Maria” levando os prêmios de melhor ficção, documentário e animação, respectivamente. Com relação à animação, este foi o primeiro ano em que a Academia implementou a categoria de melhor longa de animação, vencida por “Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock´n´roll”, de Otto Guerra.Ao começar a anunciar os prêmios técnicos e de bastidores, a Academia por um momento deixou parecer que iria realizar uma premiação distributiva, tentando premiar o máximo de filmes possíveis. Nesta leva, “Zuzu Angel” e “Cartola, Música para os Olhos” acabaram premiados. O primeiro levou o Troféu Grande Otelo de melhor figurino, para Kika Lopes, enquanto o segundo levou o prêmio de melhor trilha sonora, para Cartola (!?!). Isso mesmo, o cantor falecido há 27 anos levou o troféu de trilha. É impossível ignorar a importância de Cartola para a música brasileira, mas numa premiação como esta melhor seria premiar um novo talento, incentivando a composição de trilhas no país.A partir daí foi um monopólio só! Com a força toda após conquistar o Urso de Ouro, “Tropa de Elite” arrasou os concorrentes ao levar o Troféu Grande Otelo de efeitos especiais, montagem, som, direção de fotografia, maquiagem, ator coadjuvante (Milhem Cortaz - o famoso 02), ator (Wagner Moura), diretor (José Padilha) e melhor filme pelo voto popular. Padilha, com suspeitas de dengue, não compareceu à cerimônia, sendo representado pelo co-produtor de “Tropa”, Marcos Prado, responsável pelo momento mais político da noite ao abrir no palco uma bandeira do Tibet.Enquanto “Tropa de Elite” conquistava tudo e rumava como favorito para receber o prêmio principal, outros filmes também foram lembrados. “Santiago”, de João Moreira Salles, levou os prêmios de melhor documentário e edição em documentário; “O Céu de Suely” foi lembrado com o troféu de melhor atriz para Hermila Guedes; “O Cheiro do Ralo” comemorou os prêmios de melhor roteiro adaptado e atriz coadjuvante (Silvia Lourenço). Sobrou espaço até para filmes estrangeiros, com “Pequena Miss Sunshine” levando o prêmio de melhor filme estrangeiro pelo júri popular e “A Vida dos Outros” sendo lembrado pelos membros da Academia na mesma categoria.Eis que como diria Drummond, “tinha uma pedra no meio do caminho”. Na hora de anunciar a categoria principal (melhor longa-metragem), “Tropa” aparecia com nove estatuetas, “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” com duas (melhor roteiro original e direção de arte), assim como “O Cheiro do Ralo”. “O Céu de Suely” tinha apenas um prêmio recebido e “Baixio das Bestas” nem isso. Por esse motivo, se tivessem que apostar, imensa maioria dos mais de mil convidados presentes à cerimônia apostaria suas fichas em “Tropa de Elite”. E perderia...“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” recebeu das mãos de Roberto Farias, presidente da Academia, o Troféu Grande Otelo de melhor filme, deixando até mesmo seu diretor, Cao Hamburger, surpreso.Uma noite extremamente agradável que terminou com uma surpresa (não injustiça) e deixou para a Academia a sensação de dever cumprido, que vem acompanhada da responsabilidade de voltar a realizar um grande evento em 2009. Para aqueles que saíram derrotados valem as sábias palavras de Renato Aragão: "Depois de 40 anos, 47 filmes, eu enfim recebi um troféu".

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